No Tibet, havia dois monastérios, um no topo de uma alta montanha e outro na base da mesma formação rochosa.
Os monges do alto não eram vegetarianos, pois as condições inóspitas da alta altitude não lhes permitiam que fossem seletivos na alimentação.
Já os monges de baixo possuíam vastas terras férteis, cobertas por plantações de leguminosas e hortaliças, tendo então alimento abundante, eram vegetarianos.
Um estudante do budismo visitou a região com seu professor (Lama), e intrigou-se com os monges do topo da montanha que haviam abatido um iaque para abastecer a despensa.
Revoltado o jovem estudante queria descer logo a montanha, para se hospedar com os monges vegetarianos, que em sua concepção eram mais iluminados por não provocar o sofrimento de um ser vivo em detrimento de suas necessidades.
O Lama, riu, e acompanhou seu discípulo até um ponto da montanha onde poderiam avistar os campos de plantações dos monges vegetarianos que trabalhavam arando a terra, então falou:
-Nesse mundo não há ser que não sofra, ou ser que não promova o sofrimento de outros. A sabedoria para alcançar a iluminação reside na aceitação desse fato.
E continuou:
-Você acha que aqueles que se alimentam só de sua plantação são mais iluminados dos que cuidam de um rebanho para abatê-lo depois? Note que para plantar uma única semente de trigo é necessário revolver uma gleba de terra, e nesse processo, muitas minhocas e outros seres perecem na passagem do arado. Várias vidas são perdidas para produzir grãos que alimentarão poucos. Enquanto as carnes de um único iaque, alimentarão 20 homens por 30 dias.
-Quem promove mais sofrimento?
Sem dizer nada, o discípulo então tomou o caminho de volta ao topo da montanha.
